En la “Revista IHU On-Line”, que parece residir en la “Universidade do Vale do Rio dos Sinos” - Unisinos, y cuya dirección aparece indicada como sigue: Unisinos, Sáo Leopoldo, Rio Grande do Sul, Br, el analista Marcelo Suano, que es presentado como poseedor de un frondoso CV, hace un análisis bastante agudo y severo del “Costo Argentina” para el Brasil y para el conjunto de Mercosur. El analista norteño no ahorra adjetivos, por demás ampliamente merecidos, por las erráticas e irresponsbles políticas económicas y financieras del delirio que rige las políticas del kirchnerismo.
De lo que no habla es de que el principal cómplice de los gobiernos kirchneristas en el Mercosur ha sido, y sigue siendo, el gobierno brasileño. Como si las conductas financieras, económicas y comerciales del Brasil fueran de una prístina transparencia germana (para poner, con Alemania, un ejemplo que todos suponemos relativamente digno), el Sr. Suano dicta cátedra a lo largo de una larga y algo laboriosa entrevista sin mencionar las viejas y permanentes violaciones que el Brasil lleva a cabo en materia comercial, arancelaria, medio ambiental, etc., cuando sus interlocutores son el Paraguay o el Uruguay.
El Sr Suano tiene, al menos, la decencia de separarse del injustificable voto de exclusión del Paraguay instrumentado al sólo efecto de hacer ingresar al socio fantasma venezolano.
Pero no es tan ecuánime en el juicio sobre las eternas prácticas proteccionistas del Brasil. Todos los uruguayos adultos y medianamente informados conocemos, por ejemplo, las conductas antirreglamentarias, ilegales y en muchos casos corruptas, que sistemáticamente (desde antes de Mercosur y después de Mercosur) aplican las aduanas terrestres en las fronteras entre el Uruguay y, precisamente, Río Grande do Sul. Invitamos a este Adam Smith gaúcho a informarse, además de las arbitrariedades argentinas, también, de los incumplimientos permanentes que realizan su gobierno y sus empresas.
En otros términos, el descomunal problema que está causando la Argentina en la región, sólo tiene parangón en la desmesurada irresponsabilidad política y económica del Brasil, que es su socio y cómplice fiador, y que mantiene la ficción de que es capaz de liderar en algo esta maltrecha y cada vez más aislada región.
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11 de fevereiro
de 2014
“O Custo Argentina. A crise das relações comerciais do país platino com o Brasil e o mundo. Entrevista especial com Marcelo Suano”
“O pior está no fato de o Mercosul estar se
tornando um fardo para o crescimento do Brasil, uma vez
que nós seguimos as regras e não podemos realmente ampliar
mercados por sermos obrigados a carregar a Argentina nas
costas”, defende o cientista político.
A crise econômica que avança pelo governo
argentino, motivada por diversas decisões polêmicas de
protecionismo e quebras de acordos comerciais, prejudica
consideravelmente o bom desenvolvimento da relação entre Brasil
e Argentina.
Ocorre que, no país platino, “o Executivo tem grande
possibilidade de romper contratos com uma capacidade elevada
de se sobrepor aos demais poderes do Estado, gerando
incerteza sobre se as regras do jogo serão seguidas”,
esclarece o cientista político Marcelo Suano.
Tal incerteza gera insatisfação de ambos os
lados, levando a questionar inclusive o papel do Mercosul
para mediar estas diferenças. Para Suano, o Mercado
Comum limitou-se a ser uma “União
Aduaneira incompleta, ou imperfeita”,
com mecanismos falhos e sem instrumentos eficazes para
solucionar as controvérsias. “O pior está no fato de o Mercosul
estar se tornando um fardo para o crescimento do Brasil,
uma vez que nós seguimos as regras e não podemos realmente
ampliar mercados por sermos obrigados a carregar a Argentina
nas costas”, destaca ele.
Em entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line,
Suano
explora as nuances da relação
Brasil - Argentina,
o descontrole inflacionário do país e a desconfiança do
crédito internacional, a dificuldade da entrada e saída de
mercadorias do país vizinho e a importância de o Brasil
não abandonar o Mercosul — ainda que assumindo a postura de
líder natural. “A proporção do Brasil lhe impõe que ele se
posicione, sem autoritarismos, mas com exigências de
cumprimentos de acordos e apresentando alternativas que,
quando acertadas, devem ser cumpridas sob a lâmina da Lei.”
Marcelo
Suano possui graduação em
Filosofia pela Universidade
de São Paulo – USP, além de mestrado e
doutorado em Ciência Política pela mesma universidade. É
sócio e colaborador do Centro
de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais –
CEIRI, uma empresa de consultoria
técnica. Como professor universitário, ministrou aulas de
várias disciplinas de humanas, especialmente da área de
Relações Internacionais, sendo fundador do Núcleo
de Políticas e Estratégias da Universidade de São Paulo
e do Grupo
de Estudos de Paz da PUCRS. Mais
informações sobre o pesquisador estão disponíveis em seu
sítio: www.suano.com.br.
Entrevista.
IHU On-Line - Como o senhor descreve a atual
relação comercial entre Brasil e Argentina?
Marcelo Suano - Apesar de haver dados estatísticos que mostram
um aumento das relações comerciais entre o
Brasil e a
Argentina ao longo dos últimos
anos, elas estão substancialmente aquém do seu potencial,
mesmo sob a égide da globalização econômica atual. São três
razões importantes para tanto. Em primeiro lugar, a
desaceleração da atividade econômica nos países tem reduzido
a demanda do consumidor, embora as condições sejam
expressivamente piores na Argentina
devido à alta inflação e ao colapso da moeda do país. Esta
redução econômica tem ocorrido em todos os países
emergentes, mas deve ser temporária. Na Argentina,
acreditam os analistas que a redução permanecerá por mais
tempo, em virtude do comportamento de seu governo em relação
à manutenção de um modelo econômico em esgotamento. Os
outros dois fatores são mais graves e prejudiciais. A
segunda razão é a intervenção excessiva de ambos os governos
nas questões comerciais dos seus países, algo em que o
Mercosul deveria funcionar como um mecanismo de regulação, e
isso não tem ocorrido, pois o Grupo
está caminhando para se tornar mais um fórum político que um
bloco econômico propriamente dito. Os países se sustentam
muito no protecionismo e a Argentina
mais ainda, tanto que fechou suas fronteiras para quase
tudo, exceto para a importação de energia. Embora a questão
seja muito prejudicial para a relação entre os países, ainda
não há solução à vista.
Finalmente, e talvez o mais importante: a Argentina
é completamente isolada do mercado de capitais
internacionais devido à sua recusa em pagar as dívidas aos
seus credores. Isso significa que financiamentos de todos os
tipos, incluindo os do comércio, são muito caros e só
aumentam a cada notícia negativa que sai sobre o país. Se a
Argentina
pagasse seus credores amanhã, haveria um grande impacto em
outros setores, tornando o crédito em dólares suscetível a
taxas de juros mais baixas, em alinhamento com o Brasil
e outros países da América
do Sul. Isso aliviaria a pressão sobre
as barreiras de importação e ajudaria a estabilizar o Peso
argentino, o que causaria um ótimo
efeito sobre a inflação. Ademais, permitiria que o país
pudesse recompor sua economia sem desrespeitar as regras de
tratados e acordos assinados, como é o caso do Mercosul.
IHU On-Line - Qual a atual situação econômica
da Argentina?
Marcelo Suano - A Argentina
pode entrar num período de “estagflação”,
ou seja, uma fase de crescimento zero, ou crescimento
negativo, com inflação alta. O país tem uma inflação de 30%,
mesmo que o governo apresente índice muito inferior, abaixo
dos dois dígitos, e não possui uma política monetária que
não seja a de imprimir mais Pesos para apoiar mais despesas.
Há um princípio básico da economia: se você
imprimir muito dinheiro para ter mais gastos em subsídios
insustentáveis destinados a mais consumo, você vai aumentar
a inflação. Isso é verdadeiro, inclusive quando não há uma
onda correspondente de investimentos estrangeiros no
desenvolvimento da indústria local e de infraestrutura. Ora,
não ocorrem tais aplicações na Argentina há um bom tempo. E,
quando a moeda torna-se instável e as condições ficam
voláteis, o risco aumenta; o que aumenta também o custo do
crédito e do financiamento, impulsionando ainda mais os
preços para o consumidor.
Mas a situação é ainda pior: a Argentina
tem importado uma grande quantidade de energia e, com a alta
desvalorização do Peso, esse tipo de importação custa mais a
cada dia. Como a inflação da energia está embutida no preço
de todos os produtos, isso causa uma grande perda nas
reservas de dólares internacionais do país. O que torna tudo
isso difícil de ser controlado é a ausência de um plano do
governo argentino para mudar o curso das coisas. O país se
recusa a quitar suas dívidas e continua imprimindo moeda e
gastando mais dinheiro.
IHU On-Line - Quais as razões do descontrole
inflacionário? Quais os principais desafios do país em
relação à sua economia?
Marcelo Suano - Pode-se resumir que o descontrole
inflacionário decorre da má gestão governamental, do inchaço
da máquina, da adoção de políticas de inclusão social que
devem ser feitas e representam uma necessidade histórica que
precisa ser enfrentada, mas vem sendo realizada com medidas
populistas que não são acompanhadas da aplicação de uma
política econômica moderna, em sintonia com a globalização
da cadeia produtiva, com a captação de recursos e com a
abertura de mercados. Isso está levando a Argentina
a uma crise autoinfligida a qual não precisava enfrentar.
Por essa razão, os desafios em relação à sua
economia são vários, mas os pontos articuladores estão na
recuperação da credibilidade internacional (algo que se
consegue, pagando dívidas e honrando contratos), bem como a
credibilidade do povo em sua moeda, o que somente é possível
com uma economia equilibrada, com estímulo ao
empreendedorismo, e que os gastos públicos não gerem
desordem nas contas, para que o país não se veja preso a
constantes medidas de emergência e, pior, que essas medidas
não sejam apenas atos de sobrevivência de governos, ou de
grupos no poder.
Meu medo é a propagação dessa situação para o Brasil,
apesar de termos uma indústria mais avançada, mais dinâmica
e uma grandeza que não nos permite comportamentos
excessivamente irresponsáveis, e também para outros países
da América
do Sul, dada a situação delicada das
economias emergentes neste momento. É do interesse direto do
Brasil
convencer a Argentina
a ter um plano integral para reverter essas condições
arriscadas, começando pela quitação de sua dívida externa e
pelo retorno ao mercado de capitais para estabilizar a
situação.
Vários analistas convergem para a posição de
que apenas depois da adoção de tais medidas o país poderá
lidar com questões mais amplas, mas o tempo está se
esgotando. A recuperação da credibilidade internacional por
meio da quitação das dívidas seria uma espécie de alavanca,
ou ponto fixo a partir do qual se poderia mover o mundo, no
caso, o reequilíbrio da economia argentina.
IHU On-line - Quais sao as atuais dificultades que empresas brasileiras enfrentan ao exportar produtos para a Argentina ?
Marcelo Suano - As dificuldades são várias, mas podemos
colocar à mesa de imediato o não cumprimento dos acordos, as
barreiras não tributárias que são mascaramentos, como é o
caso das DJAIs
(Declarações Juradas Antecipadas de Importação),
que colocam o exportador brasileiro a reboque das
interpretações do governo argentino para permitir as
importações em seu país. Algumas empresas têm adotado um
planejamento estratégico inteligente de não retirar do pátio
os produtos enquanto não houver a liberação da importação;
porém, dependendo do setor, o simples fato de ter
direcionado a produção para um mercado já ocasiona perdas,
caso o produto não chegue ao consumidor final para o qual
foi direcionado, sendo inadequado achar que basta conduzir a
produção para outro mercado, como se fosse fácil fazê-lo, ou
vender o produto em outra ocasião, esquecendo as questões
logísticas, a mudança nas taxas e tributos, o novo
planejamento que deve ser feito, etc.
IHU On-Line - Quais setores encontram maiores
dificuldades para exportar seus produtos para o país
vizinho?
Marcelo Suano - Vamos colocar nos seguintes termos. A
dificuldade de exportação para a Argentina decorre
principalmente dos erros da política econômica do Governo
Kirchner, que pode dificultar mais
para um setor específico do que para outro, de acordo com a
conjuntura, na tentativa de aplacar exigências desse setor
específico na sua economia, ou, num âmbito geral, para
evitar que haja fuga de reservas do país.
No entanto, os setores calçadista, moveleiro,
de autopeças, alimentos e maquinários são os que mais vêm se
manifestando por sofrer os abusos do descumprimento dos
acordos e contratos por parte do governo de Cristina
Kirchner, que, por exemplo, não
respeita o prazo máximo de 60 dias para liberação das
licenças de importação (as conhecidas DJAIs)
que a Argentina exige de suas empresas domésticas para
importar os produtos brasileiros. Os empresários do Brasil
não compreendem os critérios adotados, pois, na realidade,
convenhamos, o que se identifica é que não há critérios, ou
os critérios são as necessidades do Governo
Kirchner, independentemente dos
acordos, contratos e tratados.
IHU On-Line – Qual o percentual de
mercadorias brasileiras retidas na Argentina?
Marcelo Suano - No caso do setor calçadista, de acordo com os
últimos dados divulgados, apenas pouco mais de 50 mil pares
de calçados foram liberados de dezembro a janeiro, o que
representa apenas 8% do total, ressaltando-se que houve uma
dedicação intensa de alguns senadores brasileiros (Ana Amélia
Lemos e Paulo
Paim) que chegaram a prometer pressão
sobre o Governo brasileiro, o qual prometeu que a totalidade
dos 750 mil pares retidos desde agosto de 2013 seria
liberada no final do ano passado, já que trabalhariam para
isso. Eles tentaram e não conseguiram.
A senadora Ana
Amélia tem demonstrado grande dedicação
ao tema e trabalhado para conseguir resolver este imbróglio
de forma intensa e coerente, da mesma forma que o senador Paulo Paim
tem se declarado indignado com a situação e já manifestou
que o Governo
Federal do Brasil não pode mais ser
complacente com os abusos do país vizinho. Espera-se que as
demais lideranças, principalmente as gaúchas, já que o Rio Grande
do Sul tem sido o mais afetado, tenham a
dedicação e a postura desses dois líderes, que demonstram
pensar de forma técnica e não ideológica, independentemente
de serem governo no âmbito federal e concorrentes no
estadual. É de se parabenizar a ambos.
IHU On-Line - Qual é o custo Argentina? O senhor fala em insegurança jurídica em relação ao custo Argentina. Em que consiste?
IHU On-Line - Qual é o custo Argentina? O senhor fala em insegurança jurídica em relação ao custo Argentina. Em que consiste?
Marcelo Suano - É importante colocar a questão do custo país
juntamente com o problema da insegurança jurídica. Falar de
um custo país normalmente remete às questões de
infraestrutura, tributos, legislação trabalhista,
legislações de várias naturezas, logística, mão de obra
qualificada, inflação, política econômica equilibrada que
estimule a produção, que afetam a expectativa de retorno de
qualquer investimento. No caso argentino ele é muito alto,
pois esses fatores citados estão a reboque de políticas
populistas, no sentido da década de 1950, mesmo.
O FMI,
as Agências
de Rating, as consultorias
independentes, todos apontam que o risco Argentina é
altíssimo, dentre outros fatores, pelo seu alto custo e pela
baixa credibilidade do país na comunidade internacional.
Ressalta-se que, neste último aspecto, os elementos que mais
interferem nas avaliações, tanto as objetivas quanto as
subjetivas, dizem respeito à falta de pagamento das dívidas
externas, como já foi citado, e à insegurança jurídica, que
pode ser apresentada de forma simplificada na nebulosidade
das leis, na sobreposição das legislações, o que, por sua
vez, gera incapacidade ou imprecisão dos julgamentos, na
contradição entre elas, na incoerência nas suas aplicações,
sendo aplicadas para alguns e para outros não, ou que sejam
aplicadas ou ignoradas em função da lógica do poder, e não
da força das instituições.
Isso se deve aos trâmites burocráticos, ou a
brechas na legislação que ocorrem por incompetência dos
legisladores ou por sua má intenção. Não podemos esquecer
que uma instituição é uma regra, se mal formulada produz
incerteza, logo, insegurança. Deve-se ressaltar também a
sobreposição e a interferência nos poderes do Estado. Na Argentina,
o Executivo
tem grande possibilidade de romper contratos com uma
capacidade elevada de se sobrepor aos demais poderes do Estado,
gerando incerteza sobre se as regras do jogo serão seguidas.
Quando não se sabe se as regras serão
respeitadas, o único resultado é insegurança, e isso aumenta
o custo país, especialmente quando não se tem mais recursos
e não há credibilidade internacional para obter
financiamentos e investimentos.
IHU On-Line - Por que o Mercosul não se
posiciona diante desta dificuldade das empresas
brasileiras com a Argentina? Há questões políticas
envolvidas?
Marcelo Suano - Em síntese, o
Mercosul não se posiciona porque não tem
condições para tanto. Seus mecanismos são falhos, não tem
instrumentos eficazes para a solução de controvérsias e está
se reduzindo a um fórum político sem eficácia. A principal
razão decorre do fato de o Mercosul
não ter evoluído no sentido correto. Limitou-se a ser uma União
Aduaneira incompleta, ou imperfeita, já
que, apesar de existir a Tarifa
Externa Comum e regras de comportamento
comuns, pretensamente únicas, ou coletivas, existe uma
grande quantidade de produtos que são excluídos.
Isso denota que não há uma União
Aduaneira real, bem como se está
demorando muito para progredir nesse sentido e mais distante
ainda de se tornar um Mercado Comum (significado da sigla).
Quanto mais ocorre demora, mais os comportamentos são
individualizados e maiores as tentações de ignorar o Bloco,
tal qual ocorre atualmente. Não é a toa que muitos já
começam a afirmar que o Brasil
deve ignorar o Mercosul e se dedicar apenas a Acordos de
Livre Comércio, o que seria o fim do
Bloco. Além disso, a atitude de incluir membros da forma
como se deu com a Venezuela
e nas condições em que ocorreram, praticamente colocaram a
ideologia sobrepondo-se às questões técnicas do Mercosul.
A ideia de que o mercado venezuelano é
maravilhoso potencialmente, exatamente pela carência que há
no país de quase tudo, torna-se um equívoco, por várias
razões: a primeira é que se parte do pressuposto de que os
venezuelanos entrariam no processo com capacidade de receber
investimentos, ou de fazê-los nos outros países. Mas, como
calcular este comportamento num país que tem umas das mais
baixas seguranças jurídicas do continente e do mundo devido
à hipertrofia do Executivo,
ao controle que este tem sobre os demais poderes do Estado,
a tutela da sociedade e das instituições pelo grupo que
tomou conta do Governo
e aparelhou as instituições do Estado
usando critérios políticos e, principalmente, ideológicos?
Ou seja, não se pode esperar da Venezuela que,
em curto e médio prazos, venha ajudar na sua evolução, uma
vez que ela ainda está buscando entender o que fazer para
acertar as nomenclaturas comuns!
Em síntese, comportamentos como este prejudicam
o Mercosul
como projeto de bloco econômico e estão lhe tornando mais um
fórum político, com certos avanços estruturais econômicos
que não conseguem progredir, por sua vez, por comportamentos
individualizados, principalmente da Argentina,
que praticamente usa do Tratado como moeda de seu interesse
e a cada jogada sua a desvaloriza mais, tal qual vem fazendo
com o Peso, graças à sua política econômica.
Papel do Mercosul
O Mercosul
deveria ter seguido os passos lógicos adotados pela União
Europeia. Uma imagem adequada me foi
apresentada, faz muitos anos, por um engenheiro que avaliou
as ações de um responsável pela jardinagem de uma praça
pública numa cidadezinha do interior do Brasil e tinha um
desenho criado de antemão. Na época, conversando, ele dizia
que não faziam sentido as muitas críticas por não ter
começado a execução do projeto e explicou que, realmente,
não deveria, enquanto os caminhos naturais não estivessem
traçados.
Eu indaguei o que ele queria dizer com isso. A
resposta foi simples. Deve-se deixar no chão batido e ver
por onde as pessoas andam, já que tendem a fazê-lo seguindo
uma lógica clara de menor esforço e racionalidade para
chegar aos diversos pontos da praça e das ruas que a
circulam. Assim poderão ser colocados bancos e jardins onde
as pessoas não andam naturalmente. Isso poupará esforço e
ajudará a preservar o que foi construído, já que não
incomodará ninguém, desestimulando também os vandalismos. E
completou dizendo que o desenho original era bonito, mas
tolo, porque não respeitava nenhum caminho natural até
aquele momento produzido pela população. Havia bancos
imaginados onde deveria existir calçamento para as pessoas
andarem, segundo o traçado agora disposto dos caminhos
naturais.
Passando para o Mercosul
em comparação com a União
Europeia, percebi a possibilidade de uma
analogia útil. O que se percebe? Os caminhos naturais são
aqueles produzidos pelas relações comerciais e/ou problemas
econômicos urgentes que precisam ser resolvidos em países,
começando de dois, tal qual foi o início do Mercosul,
com Brasil
e Argentina.
Sobre esses caminhos naturais deveriam ser construídas
instituições ouvindo empresários, investidores e segmentos
sociais para se chegar às regras que regulariam as primeiras
relações. Por serem soluções para problemas concretos,
estimulando os investimentos, certamente isso geraria
comportamentos unificados até chegar a comportamentos
comuns. Depois dessas instituições deveriam ser criadas
outras para organizá-las, supervisioná-las, com a função de
produzir novas instituições (que seria o caso do Parlamento
do Mercosul) e, principalmente, para
solucionar controvérsias.
Estas últimas seriam, por sua vez, as
primeiras criadas pontualmente sobre as regras
geradas pelos caminhos naturais e depois
expandidas. Curiosamente, a Europa
fez isso. Apesar de estar demorando em chegar ao
fim, ao menos produziu instituições sólidas, ao
contrário do Mercosul,
que nem ao menos sabe que quer dizer com a
exigência democrática, uma vez que chegou a
suspender o Paraguai
pelo movimento constitucional e legal que teve,
embora até certo ponto problemático, senão
injusto, e aproveita da suspensão para colocar a
Venezuela, que reduziu a democracia em seu país à
instituição do voto, esquecendo que isto é uma
condição necessária, mas não suficiente para que a
democracia exista. Além disso, tem usado de todos
os meios antidemocráticos possíveis para impedir a
pluralidade de opiniões e a existência do
contraditório na sua sociedade.
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IHU On-Line - Em que medida o desempenho
econômico da Argentina determina o resultado da economia
brasileira, sendo que a Argentina é o terceiro maior
parceiro comercial do Brasil?
Marcelo Suano - Pela grandeza do Brasil
não se pode dizer que determina, mas abala, pelo grau de
envolvimento dos dois países e pelo nível de interação
comercial. Pelos dados estatísticos, houve crescimento das
relações e superávit para o Brasil,
exceto para o Rio
Grande do Sul, que teve queda percentual
nas trocas e, por isso, perdas.
No entanto, esse crescimento representa o
mínimo comparativo com o que poderia ter ocorrido se as
regras fossem cumpridas, os entraves fossem extintos e a
Argentina respeitasse os acordos. Ou seja, esses dados não
mostram a totalidade da realidade. O pior está no fato de o
Mercosul
estar se tornando um fardo para a grandeza e o
crescimento do Brasil, uma vez que nós seguimos as regras e
não podemos realmente diversificar acordos com outras
regiões e ampliar mercados por sermos obrigados a carregar a
Argentina nas costas.
Assim, uma queda da Argentina
não nos destrói, mas pode levar a tropeços que exigem tempo
e recursos que não temos para recuperação. Além disso,
abalará a nossa credibilidade internacional, pois estamos
muito vinculados ao país vizinho, dando apoio político e
ideológico para suas medidas erradas, dentre elas não pagar
a dívida externa, e mesmo que não sejamos derrubados
perderemos o momento histórico, reduzindo-nos à
mediocridade.
IHU On-Line - Como o Estado brasileiro
deveria se posicionar diante dessa dificuldade econômica
entre os dois países?
Marcelo Suano - Posicionando-se como líder natural, e não como
um líder virtual. A proporção do Brasil lhe impõe que ele se
posicione, sem autoritarismos, mas com exigências de
cumprimentos de acordos e apresentando alternativas que,
quando acertadas, devem ser cumpridas sob a lâmina da Lei.
Nesse sentido, um ponto chave é ajudar os argentinos a
pagarem sua dívida mediante condições determinadas e
trazê-los de volta ao Bloco como membro, e não como um
agregado escorregadio e um estorvo.
O Brasil
perdoou dívidas de países da África
sob a alegação de que é necessário para abrir mercado ou
manter os investimentos de empresas nacionais que lá estão,
que querem ir ou que já estão indo. Por que não usar de
recursos para auxiliar os argentinos? Todos dizem que não há
certeza de que eles pagarão, ou seja, a credibilidade da
Argentina está em baixa mesmo com o nosso governo, que lhe é
amigo, parceiro e aliado. Então por que se manter
complacente? Isso é contraditório. Ademais, o montante
perdoado aos africanos e emprestado aos cubanos em contrato
caixa-preta teria sido suficiente para auxiliar a Argentina
a quitar débitos importantes. Em síntese, talvez não
queiramos resolver o problema, ou não temos coragem, ou não
temos competência, ou não sabemos o que queremos.
Na África
temos a concorrência altamente eficiente da China,
que já está estabelecida, por isso pode vir a ser um erro de
cálculo ter tanto foco lá e se esquecer da Argentina, aqui,
onde já estamos. E, não tem sido muito divulgado, mas toda
vez que há problemas com os produtos brasileiros, o
substituto do produto brasileiro no mercado da Argentina é o
produto chinês. A China está avançando, e não estamos
conseguindo fazer um planejamento sobre algo debaixo de
nossos olhos.
IHU On-Line - Deseja acrescentar algo?
Marcelo Suano - Somente mais uma coisa: a unificação da América do
Sul é amplamente favorável ao Brasil
em razão da sua grandeza, por isso é importante investirmos
na concretização do processo de unificação e na criação de
um Mercado
Comum, logo, não se dever abandonar o Mercosul.
Mas é importante ter em mente que o processo deve ser feito
com planejamento estratégico técnico e clareza dos
objetivos, e não com intenção e planejamento ideológico,
único ponto em que parece haver certeza do que se quer.
Link: http://www.ihuonline.unisinos.br
Link: http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/528116-o-custo-argentina-a-crise-das-relacoes-comerciais-do-pais-platino-com-o-brasil-e-o-mundo-entrevista-especial-com-marcelo-suano